Notícia

Dietas detox e a sua saúde

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Fonte

Tech4Health e Universidade da Califórnia em Berkeley.

Data

sábado, 24 setembro 2016 15:20

Áreas

Alimentação e Nutrição.

A ideia de “limpar seu corpo de toxinas, ou desintoxicar-se” como uma maneira de ter hábitos saudáveis ​​de alimentação pode parecer um raciocínio atraente, especialmente se você estiver comendo mal ou bebendo muito álcool. Mas não há nenhuma boa evidência científica para suportar o conceito de “detox”, como tem sido tão usado ultimamente, principalmente na chamada “imprensa especializada”, tipicamente revistas ou sites de “boa forma”. Comercialmente, muitos produtos prometem a “desintoxicação”. Em algumas circunstâncias pode ser até perigoso, especialmente para certos grupos de pessoas que já possuem algumas doenças.

O que diz a literatura

Em uma pesquisa na literatura científica, à procura de estudos clínicos randomizados e controlados que identifiquem claramente o bem que as dietas detox poderiam trazer, não se acha quase nada. Um estudo de revisão bem interessante foi publicado por pesquisadores australianos em 2014 na revista científica Journal of Human Nutrition and Dietetics. Com o título “Dietas detox para eliminação de toxinas e controle do peso: uma revisão crítica das evidências”, os autores reafirmam não terem encontrado nenhum estudo que possa validar a ação benéfica das dietas detox comerciais, alertando para as possibilidades de comprometimento da saúde. Em 2013, pesquisadores da Clínica Mayo, nos Estados Unidos, publicaram um estudo de caso na revista The American Journal of Medicine em que apontam o consumo de sucos detox como a principal causa de insuficiência renal aguda em pacientes que já apresentavam problemas renais. A insuficiência renal teria sido causada pelo oxalato encontrado nos sucos para “desintoxicação”. Em contraponto a estes estudos, pesquisadores sul-coreanos publicaram em 2015 um artigo na revista Nutrition Research, onde apontam os benefícios de uma dieta detox a base de limão. A dieta teria reduzido a gordura corporal, a resistência à insulina e os níveis séricos da proteína C-reativa em mulheres coreanas obesas.

Um texto bastante crítico foi publicado pelo Portal BerkeleyWellness.com, da Escola de Saúde Pública da Universidade da Califórnia em Berkeley, Estados Unidos, sobre a tendência de desintoxicação e por que, como acontece com tantas outras coisas na área da saúde (e da vida), não é a solução rápida que afirma ser. Você pode ler o texto a seguir:

O que “desintoxicação” significa, afinal?

Durante décadas, o termo “detox”, uma forma reduzida de falar “desintoxicação”, foi usado quase exclusivamente para se referir ao processo de retirada de álcool ou drogas por pessoas viciadas nessas substâncias.

Hoje, porém, “detox” tornou-se um termo genérico para qualquer tipo de dietas não-tradicionais, jejuns, ou procedimentos em que os proponentes pretendem redefinir o seu metabolismo, reduzir peso e eliminar as chamados “toxinas” do corpo. Entre as dietas mais conhecidas e extremas esta a chamada “Master Cleanse”, em que os seguidores não consomem nada além de água morna e sal, chá laxante, e uma mistura líquida de suco de limão, xarope e pimenta caiena por 10 dias. Mas há uma quantidade enorme de produtos e procedimentos anunciados como “detox”, que prometem um “milagre” na remoção de toxinas e perda de peso em até 5 dias, 3 dias ou mesmo 1 dia. Com grandes recursos de marketing em geral associados a todas estas dietas, o preço para o consumidor é, invariavelmente, “salgado”: alguns produtos chegam a custar centenas de dólares.

Quais são essas toxinas que tantas dietas pretendem eliminar?

As toxinas são geralmente definidas como substâncias criadas pelas plantas, animais e microrganismos que são tóxicos para os seres humanos. Alguns medicamentos também podem ser tóxicos quando usados em grandes quantidades.

Entre os defensores da desintoxicação, no entanto, esta definição chega a ficar sem sentido. Por exemplo, várias dietas de desintoxicação se referem a açúcar refinado, cafeína, carne vermelha, álcool e glúten como toxinas, e citam condições como a obesidade, fadiga, erupções cutâneas, vários tipos de câncer, inchaço, depressão, insônia , dor nas articulações e a congestão nasal crônica como prova da “toxicidade” destas substâncias no corpo. Muitas dietas detox estão focadas na remoção de substâncias tóxicas do cólon, que poderia ser feita através de uma dieta especial ou, em alguns casos, com o uso de enemas ou irrigação do cólon. Mas ambas as noções são falsas e absurdas: a matéria fecal não abriga toxinas que possam tornar a pessoa doente. Além disso, a limpeza do cólon pode ser tanto desnecessária quanto perigosa.

Os órgãos do corpo já fazem a “desintoxicação” ?

Sim. Na verdade, visto a partir desta perspectiva, o corpo humano é uma máquina de desintoxicação maravilhosamente eficiente. O maior órgão do corpo – a pele – já é uma barreira para substâncias nocivas. As vias aéreas têm mecanismos para expelir partículas nocivas, enquanto os intestinos filtram os parasitas e outros organismos prejudiciais, permitindo que os nutrientes sejam absorvidos pelo sangue. O fígado age como filtro primário do corpo, livrando o corpo de substâncias tóxicas. Os rins também filtram as toxinas, através da urina. Estes órgãos agem em conjunto com o sistema imunológico para mantê-lo bem. A alimentação saudável, sono e hábitos de exercício ajudam a máquina a funcionar de forma otimizada. Mas não há nenhuma evidência de que uma dieta de desintoxicação especial ou rápida possa tomar o lugar ou complementar o que o próprio corpo é naturalmente programado para fazer.

Algumas dietas de desintoxicação podem ser perigosas?

Sim, especialmente aquelas mais extremas ou restritivas. Por exemplo, alguns planos de desintoxicação eliminam nutrientes críticos, como a proteína, o que pode levar à desnutrição. A “limpeza” causada pelo consumo de sucos detox, pode levar a um desequilíbrio de eletrólitos como sódio e potássio. Outras práticas de desintoxicação são ainda mais perigosas. A irrigação do cólon, por exemplo, pode levar a complicações graves, incluindo diarreia, infecções do sangue com risco de vida (septicemia) e a perfuração da parede intestinal.

Além disso, existem pessoas que podem ter uma reação ainda mais adversa às dietas detox extremas, incluindo mulheres grávidas, pessoas com doenças crônicas, como doença cardíaca ou renal e aqueles com imunidade enfraquecida. Pessoas nestas condições devem evitar qualquer tipo de limpeza, expurgo ou dieta muito restritiva.

Existe alguma evidência científica para apoiar a desintoxicação?

Não há nenhuma evidência de que qualquer um destes métodos de desintoxicação possa realmente livrar o corpo de substâncias nocivas. E se o seu objetivo é perda de peso – benefício prometido pela maioria – a frustração deve vir nos resultados de longo prazo. Isso acontece em parte porque, enquanto a restrição calórica grave que a maioria dos planos de desintoxicação alimentar pode levar à perda de peso no curto prazo, o “peso perdido” é principalmente água e não gordura corporal. De fato, estudos têm mostrado que homens e mulheres que perdem peso pelo jejum ou pela redução drástica na ingestão de calorias voltam a ganhar o peso de volta, e muitas vezes ficam até com peso maior.

E quanto a beber grandes quantidades de água, como alguns planos de desintoxicação aconselham? É verdade que pode ajudar a “limpar” o corpo ou a eliminar as toxinas?

Não. Na verdade, beber mais água do que é necessário para se manter hidratado e acabar com a sede pode prejudicar a capacidade dos rins de trocar adequadamente eletrólitos, como sódio, potássio e cloreto. Isso pode levar a problemas potencialmente graves, como as arritmias cardíacas. Pode parecer razoável supor que quanto mais água você bebe, mais “substâncias ruins” você vai expulsar do corpo. Mas não é o que acontece. Se você estiver produzindo urina de coloração amarelo-claro e não sentir sede excessiva, você está bebendo toda a água que você precisa. É bom lembrar que os idosos muitas vezes perdem a sensação da sede, por isso é importante lembrar de beber água ou outro fluido ao longo do dia.

Resumindo:

Planos de desintoxicação na forma de dietas especiais são na melhor das hipóteses desnecessários e na pior das hipóteses potencialmente prejudiciais. Não se trata aqui da análise sobre o consumo de um suxo detox isolado, que muitas vezes pode ser realmente saudável, mas sim de uma dieta que prevê mudanças drásticas na forma da alimentação. Os estudos realizados até hoje mostram que se você tiver uma alimentação saudável, sono adequado e exercício físico regular já estará contribuindo para que seu corpo funcione de maneira adequada. Com isto, você já poderá manter a pele com aparência saudável, perder peso de forma sustentável e aumentar a resistência a resfriados e outras doenças, e muito mais. Um profissional nutricionista poderá ajudar a compor um plano alimentar da forma mais adequada possível para as suas condições específicas.

Fonte: Tech4Health e Universidade da Califórnia em Berkeley. Imagem: Pixabay.

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