Notícia

Parto humanizado e o empoderamento feminino desde a gestação até o pós-parto

Professora da UnB coordena debates constantes sobre o parto humanizado e o papel da mulher durante a maternidade

Pixabay.

Fonte

UnB Ciência

Data

terça-feira, 1 novembro 2016 20:40

Áreas

Enfermagem. Obstetrícia. Saúde da Mulher.

“Do século XX para cá, definiu-se que a forma de lidar com o corpo da mulher é com força. Corpo de mulher não precisa de força. É só o contato, pele a pele”, afirma a Dra. Silvéria Maria dos Santos, enfermeira obstetra e professora do Departamento de Enfermagem da Universidade de Brasília. E, assim, segue a roda de conversas que ocorre no projeto de extensão “Promoção da Saúde Sexual e Reprodutiva no HUB/UnB – Curso de gestantes, casais grávidos e paridas”, coordenado há 18 anos pela Dra. Silvéria, que também desenvolve trabalho sobre direito da mulher e humanização do parto.

Toda sexta-feira, partir das 11h, o grupo – que inclui ainda enfermeiras, doulas, terapeutas e estudantes – se reúne no ambulatório do Hospital Universitário de Brasília (HUB) para compartilhar experiências, temores, angústias e aprendizados. Os encontros são abertos aos interessados e não precisam de inscrição. “A roda não para. Temos apenas recesso de Natal e Ano Novo. No mais, estamos sempre ativas”, adianta a enfermeira.

“Para parir, você precisa rever seus conceitos. O medo de ser mãe, as questões relativas a sua mãe e seu pai. O desafio de todas nós é a maternidade. A gravidez e o parto são ritual mínimo. Quando nasce, não é só um bebê. Nasce um pai e uma mãe. Nasce uma família”, intervém a Dra. Silvéria dos Santos.

Na conversa, fala-se sobre plano de parto, expectativas, frustrações. O foco é o estímulo da saúde sexual reprodutiva. “É um espaço de promoção de saúde e de vida. A perspectiva é a temática reflexiva sobre o ciclo de vida, a saúde da mulher, da criança e da família”, explica a Dra. Silvéria.

Empoderamento

“Aqui, mitos, crenças e dogmas são desconstruídos. Aprendemos a ser mãe. Não se nasce mãe. Mãe não é gerada pelo engravidar, pelo parir. É um projeto de vida em construção”, afirma a professora. O grupo foi criado, segundo ela, para que a experiência da mulher e o saber acadêmico possam transformar pessoas para cuidar e para receber cuidado. “Nesse grupo, quebramos o ciclo da violência obstetrícia. A mulher sabe quais são as abordagens agressivas. Ela tem informação para tomar decisões sobre seu corpo”, decreta a coordenadora do projeto.

A seguir, o Portal UnB Ciência preparou cinco perguntas para a enfermeira obstetra e professora Dra. Silvéria Maria dos Santos sobre parto humanizado, empoderamento feminino e o grupo Promoção da Saúde Sexual e Reprodutiva no HUB/UnB – Curso de gestantes, casais grávidos e paridas:

 

UnB Ciência: Qual o maior desafio para o parto humanizado na atualidade?

Dra. Silvéria dos Santos: São os profissionais que não abordam a mulher como sujeito político, no sentido de que cabe a ela autoridade sobre seu corpo. Ela tem o poder e o direito de decidir sobre ele. Existem políticas, regras, regulamentos federais, distritais e internacionais sobre o tema. A questão é respeitá-los. Formação é outro desafio. Existem estudos que comprovam os benefícios do parto humanizado. E esse é o foco da Rede Cegonha [iniciativa do Ministério da Saúde para saúde materno-infantil]: humanizar para quebrar a violência no parto. Muitos profissionais não querem reconfigurar suas práticas sobre o parto.

 

UnB Ciência: Qual o entendimento pacificado sobre parto humanizado?

Dra. Silvéria dos Santos: Os profissionais devem passar as informações sobre o funcionamento natural do corpo feminino durante o parto. Cabe à mulher observar limitações próprias anatômicas, fisiológicas e do bebê para fazer suas escolhas. A categoria que está mais apta para se qualificar para o parto com minimização de risco, para o parto humanizado, é a da enfermagem. Isso porque não tem medicalização, procedimento cirúrgico… Estamos no terceiro curso de especialização em enfermagem obstetrícia, com 705 horas. Três quartos do curso são voltados para práticas e habilidades. Não significa que um médico não posso fazer. Pode, desde que seja um profissional disposto a observar e dar o tempo de a mulher parir, porque cada uma tem seu tempo. Não há hora para nascer. A Rede Cegonha trabalha com cooperação entre profissionais para garantir baixo risco no parto. Seja risco social, legal, fisiológico. Por isso trabalhamos com assistentes sociais, advogados, fisioterapeutas…

 

UnB Ciência:  O grupo empodera as mulheres?

Dra. Silvéria dos Santos: Empodera. Mais do que o debate, o grupo promove o espaço de fala da mulher. O direito à fala, para que ela possa expor as emoções. Gestação é muita emoção. O sistema límbico vem à tona. Por isso, elas precisam vir. Elas precisam desse exercício de fala.

 

UnB Ciência: Nesses 18 anos de grupo, você identifica mudança na forma em que os temas são tratados pelas mulheres?

Dra. Silvéria dos Santos: Demais. No passado, elas tinham muita vergonha de falar, por exemplo, sobre as mudanças que ocorrem na genitália enquanto estão grávidas. Muda o tamanho, o muco, a lubrificação, a relação com o sexo. Hoje, elas falam com muita simplicidade, normalidade. Falam também sobre as várias fases por que passam, como o medo, a dor, o amor. Antes, esses tipos de grupo eram muito focados no mito do amor materno. Como se, ao ficar grávida, a mulher precisasse amar tudo, gostar de tudo, e não é assim. É como qualquer outra fase na vida. É preciso ter respeito aos limites emocionais, relacionais da mulher.

 

UnB Ciência:  Qual é a importância do grupo para a comunidade?

Dra. Silvéria dos Santos: Há redução de conflitos e violências que enfrentam na assistência ao parto. Consciência do poder e quebra de mitos que elas têm sobre o parto. Respeito a elas e a próximas gerações.

 

Serviço:
Promoção da Saúde Sexual e Reprodutiva no HUB/UnB – Curso de gestantes, casais grávidos e paridas.

Sextas-feiras, a partir das 11h

Ambulatório do Hospital Universitário de Brasília – HUB, sala 49, corredor azul (SGAN 605, Av. L2 Norte, Brasília, DF). Participação livre.

Fonte: UnB Ciência.  Imagem: Pixabay.

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