Notícia

Substância isolada do gengibre demonstra potencial para tratamento de câncer

Testes com a molécula já apresentaram resultados positivos para câncer de mama, inibindo o crescimento do tumor primário e metástases

Pixabay

Fonte

UFSCar

Data

terça-feira, 12 abril 2016 15:25

Áreas

Bioquímica. Farmácia. Biotecnologia. Química Medicinal. Oncologia.

Uma substância isolada do gengibre que está em fase de testes no Laboratório de Biologia do Envelhecimento (LABEN) do Departamento de Gerontologia (DGero) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) demonstra potencial para ser usada no tratamento de câncer, isoladamente ou em conjunto com a quimioterapia, podendo reduzir os efeitos colaterais. A molécula já foi testada e obteve resultados positivos contra células de câncer de mama, mas poderá ser testada também em câncer de próstata, de pulmão, de colo de útero, dentre outros tipos da doença.

Segundo a Profa. Dra. Márcia Cominetti, docente do DGero e coordenadora do LABEN, o composto isolado do gengibre, denominado [10]-gingerol, é uma substância com atividade específica, ou seja, mata mais células tumorais em comparação com células normais, por um mecanismo de morte celular programada. Dessa forma, não ocorre a inflamação nos tecidos, efeito que realmente se espera de um medicamento antitumoral.

A docente explica que para o tratamento do câncer, que é um conjunto de mais de 100 doenças diferentes, existem atualmente três principais opções: a cirurgia para remoção do tumor, a quimioterapia e a radioterapia, que muitas vezes são realizadas de forma combinada. Porém, o que acontece com a quimioterapia, que é o tratamento mais usado, é a não seletividade de seus medicamentos, o que faz com que eles atinjam células tumorais, mas também células saudáveis do organismo do paciente. “Então, as células que se dividem rapidamente, como células do bulbo capilar, local onde os cabelos nascem, da mucosa bucal, e do intestino, por exemplo, acabam morrendo também, o que acaba levando o paciente a apresentar sérios efeitos colaterais desta medicação, que são náusea, queda de cabelo, efeitos bastante conhecidos da quimioterapia. Portanto, o desenvolvimento de drogas antitumorais é um campo repleto de desafios, já que os agentes quimioterápicos ideais devem agir seletivamente para matar ou inibir o crescimento das células neoplásicas, deixando as células normais intactas”, relata a pesquisadora.

O estudo, que começou em 2010, foi realizado em parceria com o Departamento de Química (DQ) da UFSCar, por meio dos professores Dr. Paulo Cézar Vieira e Dr. João Batista Fernandes, que forneceram diversas amostras de compostos de origem natural extraídos de plantas, como a catuaba e a laranja, além do gengibre, que podem evitar que tumores se proliferem. A partir de então foram realizados diversos estudos utilizando cultura celular, ou seja, quando as células são retiradas de tumores de pacientes e células saudáveis são cultivadas em laboratório e utilizadas para testar os compostos.

Por enquanto, já se comprovou que a substância, além de conseguir inibir o crescimento do tumor primário de mama, também inibe metástases, que ocorrem quando células do tumor primário se deslocam e passam a afetar outros órgãos. O [10]-gingerol mostrou inibir metástases pulmonares, ósseas e cerebrais. Segundo a Dra. Marcia Cominetti, a descoberta é de grande importância, já que há poucos medicamentos utilizados para combater tumores cerebrais, e nesses casos, muitas vezes a cirurgia é praticamente inviável. 

De acordo com a professora, existem outros estudos no mundo com essa molécula, mas o diferencial é que o LABEN da UFSCar conta com uma capacidade de isolá-la com grande rendimento. “O método de purificação do [10]-gingerol a partir do gengibre foi desenvolvido pelo Dr. James Almada da Silva, ex-aluno do DQ da UFSCar, de uma maneira eficaz, o que forneceu uma grande quantidade de moléculas para os testes no laboratório”, comemora.

Outro motivo que engrandece a importância do estudo é a previsão do envelhecimento da população brasileira, o que vem acompanhado de uma série de doenças com maior incidência entre as pessoas desta faixa etária, como câncer, por exemplo, que na maioria dos países desenvolvidos, é a segunda maior causa de morte, precedida pelas doenças cardiovasculares. O número de mortes por câncer no mundo deverá aumentar 45% até 2030, passando de 7,9 milhões para 11,5 milhões, influenciadas em parte pelo aumento da população e pelo envelhecimento global. E há evidências epidemiológicas que esta tendência é emergente em países em desenvolvimento.

O motivo de atenção é ainda maior, pois a população brasileira está envelhecendo numa velocidade mais rápida que a das sociedades mais desenvolvidas, o que produzirá grande impacto nos sistemas de saúde, com elevação dos custos e do uso de serviços. Segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nas próximas duas décadas o número de pessoas com mais de 60 anos de idade vai mais do que triplicar, passando dos atuais 22,9 milhões, o que totaliza 11,34% da população, para 88,6 milhões, que representarão 39,2% da sociedade brasileira. Enquanto a quantidade de idosos, que hoje em dia representa 21,5% da população mundial, vai duplicar no mundo até o ano de 2050, ela quase triplicará no Brasil, tornando o Brasil o sexto país com o maior número de idosos.

A especialista aponta que a incidência do câncer aumenta drasticamente com a idade, provavelmente devido ao acúmulo de riscos para os cânceres específicos, já que os idosos são mais vulneráveis, pois já enfrentaram mais situações adversas, e conviveram com um maior número de compostos tóxicos e poluentes. Além disso, o risco de mutações genéticas ocorrerem também é mais alto quanto maior for a idade da pessoa.

“Como o Brasil será um país com grande número de idosos, e como pessoas desta faixa etária têm mais chances de desenvolver câncer, o número de mortos por essa doença deve aumentar nas próximas décadas”, explica Márcia. Isso, segundo a professora, causa uma demanda por realização de pesquisas na área que busquem entender as bases biológicas desta doença. A professora espera que, a partir dos estudos sobre câncer, obtenha-se a longo prazo a base para uma nova droga antitumoral, mais eficaz do que as existentes.

Atualmente, os pesquisadores estão modificando estruturalmente a substância, para encontrar sua melhor eficácia e realizar testes em combinação com medicamentos quimioterápicos, com o objetivo de verificar se há uma melhora do tratamento e menores efeitos colaterais. Além do DQ, a pesquisa realizada no DGero, também conta com a colaboração do Departamento de Ciências Fisiológicas da UFSCar, laboratórios de outros países, além de outras instituições brasileiras.

Para que no futuro os testes em humanos aconteçam serão necessários investimentos de indústrias farmacêuticas. Até o momento a pesquisa foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoas de Nível Superior (Capes) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Mais informações sobre o Grupo de Pesquisa em Biologia do Envelhecimento da UFSCar podem ser encontradas em www.laben.ufscar.br.

Fonte: UFSCar. Imagem: Pixabay.

 

Leia também:

Efeitos do gengibre na saúde da mulher

Tratamento com gel de gengibre amargo para pés diabéticos

Biossensor detecta estágio inicial (assintomático) do câncer de mama

Bloqueio para câncer no cérebro

Café aumenta a possibilidade de sobrevivência ao câncer de intestino

Câncer colorretal: fatores de risco e diagnóstico

Câncer de colo do útero: diretrizes brasileiras sobre o rastreamento precoce

Câncer de Mama: novas técnicas podem facilitar o diagnóstico precoce

Câncer de ovário: estudo valida modelo de risco da doença com base em ultrassonografia

Célula de tumor que se comporta como célula-tronco de embrião agrava tipo de câncer infantil

Composto encontrado em uvas e vinhos tem potencial preventivo para câncer de fígado

Dieta mediterrânea reduz risco para câncer de mama

Em suas publicações, o Portal Tech4Health da Rede T4H tem o único objetivo de divulgação científica, tecnológica ou de informações comerciais para disseminar conhecimento. Nenhuma publicação do Portal Tech4Health tem o objetivo de aconselhamento, diagnóstico, tratamento médico ou de substituição de qualquer profissional da área da saúde. Consulte sempre um profissional de saúde qualificado para a devida orientação, medicação ou tratamento, que seja compatível com suas necessidades específicas.

Os comentários constituem um espaço importante para a livre manifestação dos usuários, desde que cadastrados no Portal Tech4Health e que respeitem os Termos e Condições de Uso. Portanto, cada comentário é de responsabilidade exclusiva do usuário que o assina, não representando a opinião do Portal Tech4Health, que pode retirar, sem prévio aviso, comentários postados que não estejam de acordo com estas regras.

Leia também

2024 tech4health t4h | Notícias, Conteúdos e Rede Profissional em Saúde e Tecnologias

Entre em Contato

Enviando
ou

Fazer login com suas credenciais

ou    

Esqueceu sua senha?

ou

Create Account