Notícia

Para manter a pressão arterial controlada

Farmacêutica desenvolve método simples que identifica casos de falta de controle da pressão arterial

Shutterstock

Fonte

Unicamp

Data

quarta-feira, 18 novembro 2015 11:05

Áreas

Farmacologia. Clínica Médica.

A Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (FCM-Unicamp) é um dos poucos centros no Brasil que atende especificamente pacientes com quadro de hipertensão arterial de difícil controle, dispondo para tanto do Ambulatório de Hipertensão Resistente. A hipertensão arterial resistente (HAR) se caracteriza por apresentar valores acima de 140/90 mmHg, apesar dos tratamentos não farmacológico e farmacológico, e seu controle demanda a utilização de no mínimo três classes de anti-hipertensivos em doses otimizadas, inclusive um diurético. Incluem-se na categoria dos portadores de HAR os indivíduos que apresentam pressão arterial (PA) controlada, mas que necessitam de quatro ou mais classes de fármacos anti-hipertensivos.

O diagnóstico da HAR exige monitoramento ambulatorial da PA para que possam ser excluídos os pacientes que revelam a hipertensão do jaleco branco e os que não a têm controlada porque não aderem ao tratamento prescrito.

A não adesão ao tratamento é um dos grandes problemas de saúde pública e causa maior da falta de controle pressórico. A verificação de aderência deve ser feita quando o médico suspeita de resistência ao tratamento para que possa excluir os pseudo-resistentes. A identificação dos pacientes com HAR é essencial já que sujeitos a maiores riscos cardiovasculares se comparados aos falsos resistentes. Estudos envolvendo pacientes com HAR mostram altas taxas de não adesão ao tratamento, o que reforça a importância da sua correta identificação para que possam ser submetidos ao devido acompanhamento clínico.

Estas constatações levaram a farmacêutica Nathália Batista Corrêa a pesquisar métodos práticos e baratos que permitam identificar os casos em que a falta de controle da PA nos casos de HAR resulta na realidade da não aderência ao tratamento. A ideia se consolidou em conversas com seu orientador, o Prof. Dr. Heitor Moreno Júnior, docente do Departamento de Clínica Médica da FCM, e com colegas do Laboratório de Farmacologia Cardiovascular, do Departamento de Farmacologia da FCM. O trabalho foi seguido de perto pelo seu coorientador Dr. Rodrigo Gimenez Pissutti Modolo, especializado em cardiologia clínica e em hemodinâmica e cardiologia intervencionista, e atualmente orientador junto ao Departamento de Farmacologia da mesma unidade.

A adesão pode ser caracterizada como o grau em que o paciente cumpre corretamente a prescrição médica e envolve o comportamento do indivíduo perante as recomendações médicas tanto farmacológicas quanto não farmacológicas. É fato universalmente comprovado que a eficácia e o benefício da medicação são alcançados desde que o paciente cumpra corretamente as prescrições médicas. Estima-se que a adesão ao tratamento de doenças crônicas em países desenvolvidos seja de 50%, mas estudos realizados no Brasil reportam a taxas de 19,7% a 65,7% para pacientes hipertensos. Atualmente se considera que há adesão quando o uso das drogas é superior a 80% da prescrita. Mas como determiná-la nos portadores de HAR diante da falta de ferramentas práticas para uso diário na clínica?

O Dr. Rodrigo lembra que vários são os fatores que podem comprometer a adesão do paciente ao tratamento como o grande número de comprimidos que deve ingerir ao longo do dia; a disponibilidade das medicações nos sistemas de saúde ou impedimentos que não permitiram retirá-la no devido tempo; a dificuldade de acessibilidade, por faltas de recursos, às drogas que devem ser compradas; os efeitos colaterais e desagradáveis que podem provocar nos pacientes e que os levam a interromper o tratamento. Muitas vezes, para manter um bom relacionamento com o médico, o paciente omite essas dificuldades. Esses problemas podem ser minimizados quando o médico estabelece com o paciente uma relação de empatia que o leve a ter coragem e liberdade de expor as dificuldades que enfrenta, possibilitando-lhe a informação, esclarecimento e conscientização sobre os riscos que corre pela não adesão às prescrições. Diante disso, Nathália se interessou em desenvolver métodos objetivos e confiáveis, além de práticos, que permitam ao clínico identificar os casos em que PA é de fato de difícil controle.

Ponto de Partida

Existem diferentes métodos empregados atualmente para descobrir se o paciente toma ou não as medicações. Os métodos laboratoriais são confiáveis e permitem uma verificação precisa através de exames de sangue ou de urina, mas são pouco aplicáveis no dia-a-dia da clínica porque caros e demorados. Existem, também, os métodos indiretos, simples e rápidos, que envolvem a aplicação de questionário que permite, através de pontuação estabelecida, confirmar a informação fornecida pelo paciente, mas eles são de fidedignidade limitada porque podem ser burlados. Tentando superar essas dificuldades a autora se propôs a pesquisar métodos que possibilitassem um acesso rápido à informação e de fácil aplicação na prática diária.

Com essa preocupação ela consultou a literatura especializada e encontrou pesquisas, da década de 1980, que propunham a determinação da fluorescência da urina com essa finalidade. O paciente toma determinado anti-hipertensivo e essa droga e seu metabólito conferem luminosidade à urina quando sobre ela incide luz ultravioleta. Uma das substâncias que viabilizam esse procedimento é o triantereno, diurético anti-hipertensivo fraco, muito pouco utilizado hoje, que é adicionado a outro de maior potência.

Para se certificar da validade da inferência a pesquisadora utilizou paralelamente a escala de adesão de Morisky, consagrada na literatura e de comprovada eficiência. Trata-se de um questionário muito utilizado em pesquisas para estabelecer o índice de aderência a medicações. Esse procedimento mostrou uma correspondência de cerca de 80% entre os dois métodos selecionados. “O método da fluorescência atua como um tira-teima, já que não há como mentir diante de uma confirmação biológica”, diz ela.

A pesquisa

Como havia poucas publicações na literatura sobre o teste da fluorescência e pretendia-se avaliá-lo junto a um público que não fosse portador da HAR, a primeira parte do trabalho serviu como piloto e o triantereno foi aplicado em doze pacientes dos quais nove eram normotensos e três apresentavam hipertensão moderada. Depois da ingestão da medicação foram feitas coletas da urina de duas em duas horas, durante doze horas. Os testes indicaram a fluorescência na urina, que atingiu seu pico depois de seis horas, comprovando a validade do método para a avaliação pretendida. Rodrigo afirma que “o método apresentou altíssima sensibilidade e especificidade nos casos analisados, revelando-se de grande acurácia. Munidos dessas constatações passamos a testá-lo em pacientes com pressão de difícil controle”.

A pesquisadora selecionou então 21 pacientes com hipertensão grave, acompanhados no Ambulatório de Hipertensão Resistente do HC, que tomaram a medicação durante 30 dias. Todos eles passaram previamente por avaliação médica para que pudessem trocar o diurético que lhes havia sido prescrito por outro que continha também o triantereno. Nesse período ela fez duas coletas de urina para exame da fluorescência, próximas à sexta hora depois da ingestão do medicamento, sem que os pacientes fossem avisados.

O Dr. Rodrigo enfatiza: “Usar o medicamento de forma irregular é perigosíssimo, pois o remédio tem um prazo de atuação. Existem estudos na literatura mostrando que tomá-lo de forma irregular aumenta a possibilidade de AVC, porque essa inconstância provoca oscilação da pressão aumentando o risco de derrame”.

Ele destaca, ainda, que no processo de tratamento a educação do paciente, o acompanhamento e a regularidade nas consultas são muito importantes porque o convívio com o médico, com o farmacêutico, com o enfermeiro, com toda a equipe de saúde ajuda a conscientizá-lo da importância de tomar a medicação com regularidade, principalmente em uma doença na maioria das vezes assintomática. “Em nosso trabalho não desenvolvemos um novo método, mas utilizamos ideias que podem ser progressivamente elaboradas como, por exemplo, adicionar a substância que leva à florescência dentro das drogas já prescritas para hipertensão, bem como desenvolver maneiras mais práticas de aplicar o método proposto. Esperamos que a publicação do trabalho desencadeie uma colaboração multidisciplinar para concretização das próximas etapas”, conclui o pesquisador.

Fonte: Carmo Gallo Neto, Unicamp. Imagem: Shutterstock.

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