Notícia

Endometriose: especialista esclarece dúvidas

Especialista do Hospital Nipo-Brasileiro esclarece os principais detalhes sobre a endometriose e como ela afeta a saúde da mulher

Pixabay

Fonte

Hospital Nipo-Brasileiro

Data

domingo, 6 novembro 2016 16:28

Áreas

Medicina. Ginecologia. Saúde da Mulher.

De acordo com o Coordenador do Setor de Reprodução Humana e Endoscopia Ginecológica do Hospital Nipo-Brasileiro (HNB), Dr. Teiichi Ninomiya, considera-se que 10 a 15% das mulheres em idade reprodutiva apresentem endometriose, o que significa em números absolutos que são cerca de 6 milhões no Brasil e 180 milhões no mundo.

Dr. Teiichi Ninomiya é médico ginecologista formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de Sâo Paulo (USP), especializado em Reprodução Humana, Laparoscopia e Histeroscopia; é Coordenador do Setor de Reprodução Humana e Endoscopia Ginecológica do Hospital Nipo-Brasileiro desde 1999 e diretor clínico do consultório Nipofert. Abaixo, o especialista esclarece as principais dúvidas sobre a doença, em entrevista concedida ao Hospital Nipo-Brasileiro:

O que é endometriose?

Dr. Teiichi Ninomiya: A endometriose é caracterizada pela presença de tecido semelhante ao endométrio fora do útero, ou seja, em qualquer outro lugar do corpo.
O endométrio é a camada de tecido composto por glândulas e estroma, que recobre internamente a cavidade do útero, sendo responsável pela menstruação quando descama ao final de um ciclo menstrual.
Ela é conhecida como “a doença da mulher moderna”, pois seu aparecimento parece ser influenciado pelo padrão de vida feminino atual: a mulher tem menos filhos, engravida mais tarde e é submetida constantemente a um maior nível de estresse. Todos estes fatores estão ligados a um hormônio chamado estrogênio, produzido nos ovários e que é responsável pelo crescimento desta doença. Ou seja, a partir da primeira menstruação até a menopausa, qualquer mulher pode ter endometriose.

Como é realizado o diagnóstico? Por que muitas mulheres reclamam que demoraram a ser diagnosticadas com a doença? Há dificuldade ainda dos profissionais em realizar o diagnóstico? Se sim, por quê?

Dr. Teiichi Ninomiya: Não se sabe ao certo o número de mulheres que têm endometriose, porque o diagnóstico final da doença depende de uma cirurgia por videolaparoscopia e de uma biópsia de alguma lesão que confirme tratar-se de endometriose. No entanto, dois pontos devem ser considerados nessa questão: mulheres que não apresentam sintomas da doença podem ter endometriose e, devido aos diversos problemas nos sistemas de saúde (custos, médicos especializados em videolaparoscopia), nem todas as mulheres com sintomas conseguem ser avaliadas de forma especializada, realizar exames adequados e chegar ao diagnóstico e tratamento correto.
Na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), foi feita, em 200 mulheres com endometriose, uma avaliação de quanto tempo demora para uma paciente conseguir ter o diagnóstico de endometriose e, na média, a paciente leva 7 anos entre começar a ter sintomas e saber que tem endometriose. Idade média de diagnóstico de endometriose de 30 anos para mulheres inférteis e de 33 anos para pacientes com quadro de dores.

Como a doença surge?

Dr. Teiichi Ninomiya: Algumas teorias apontam as causas do aparecimento do endométrio fora do útero. A mais conhecida é a “menstruação retrógrada”, que ocorre quando o fluxo sanguíneo volta pelas tubas uterinas, sendo derramado nos órgãos próximos, como ovários, peritônio, intestino. Outra teoria muito considerada para o desenvolvimento da doença é a falha no sistema imunológico. Outra hipótese estuda a transformação de células, que assumem as características do endométrio, fora do útero.

Como a endometriose se desenvolve?

Dr. Teiichi Ninomiya: O tecido endometrial uma vez fora do útero tem a capacidade de implantar e proliferar, aumentando a quantidade de células e o tamanho das lesões de endometriose. A disseminação do endométrio pode se dar por proximidade acometendo tecidos e órgãos pélvicos ou pela corrente sanguínea atingindo órgãos fora da pelve.

A endometriose é hereditária?

Dr. Teiichi Ninomiya: A presença de casos de endometriose na família é um fator de risco para o desenvolvimento da doença.

Quais são os sintomas da endometriose?

Dr. Teiichi Ninomiya: Cólica menstrual (presente em 90-95% dos casos); dor pélvica contínua não relacionada a menstruação; infertilidade; dor profunda na vagina ou na pelve durante relação sexual; obstipação intestinal ou diarreia no período menstrual; dor para evacuar e sangramento nas fezes ou na urina.

Toda mulher que tem cólica menstrual tem endometriose?

Dr. Teiichi Ninomiya: A cólica menstrual ou dismenorreia é um sintoma comum a várias outras doenças ginecológicas além da endometriose.  Ela pode estar presente nos casos de miomas uterinos, adenomiose, pólipos endometriais, malformações útero-vaginais, uso de DIU.  Algumas mulheres podem apresentar cólicas menstruais no início das menstruações sem que seja diagnosticada nenhuma doença específica que leve a este sintoma. Neste caso temos o diagnóstico de dismenorreia primária.

Mulheres que não têm cólicas podem ter endometriose?

Dr. Teiichi Ninomiya: Alguns estudos mostraram que cerca de 5% a 16% das mulheres férteis e assintomáticas podem apresentar lesões de endometriose pélvica. Nestes casos, as lesões geralmente são pequenas e superficiais, classificadas como endometriose mínima ou leve.

Quais os locais de acometimento da endometriose?

Dr. Teiichi Ninomiya: A pelve feminina é o local mais frequente de desenvolvimento da endometriose. Os órgãos mais acometidos são os ovários, trompas, ligamentos útero-sacros, peritônio e útero. O intestino, em especial intestino grosso (reto e sigmoide) é o órgão não reprodutivo mais afetado pela doença. A bexiga e os ureteres também podem apresentar lesões de endometriose. Em casos mais raros as lesões podem se apresentar no diafragma, pulmão e em outros locais do corpo.

Por que a endometriose leva a infertilidade?

Dr. Teiichi Ninomiya: A associação de endometriose e infertilidade já é observada há muitos anos. Estudos prévios demonstraram que as mulheres com endometriose têm uma taxa de fecundidade (chance de engravidar por mês de exposição) bem menor que mulheres sem endometriose. Sabemos que entre 50% a 70% das mulheres com a doença tem infertilidade e que cerca de 40% das mulheres com infertilidade tem endometriose.

A endometriose pode levar a infertilidade por vários mecanismos diferentes:

  • Distorção anatômica: obstrução das trompas, aderências que impedem o transporte do óvulo até o encontro com os espermatozoides no interior da tuba uterina;
  • Mudanças no fluído peritoneal: produção de substâncias e células inflamatórias que interferem com a interação óvulo-espermatozoide;
  • Desordens ovulatórias: provocadas pelas substâncias inflamatórias e modificações nos folículos ovarianos;
  • Alterações foliculares e embrionárias;
  • Desordens de implantação embrionária.

 

Mulheres com endometriose tem chance de engravidar?

Dr. Teiichi Ninomiya: Cerca de 50% das mulheres com endometriose podem engravidar espontaneamente sem tratamento. Grande parte das pacientes com infertilidade pela endometriose pode engravidar após tratamento adequado. O tratamento clínico habitualmente usado nos casos de endometriose com hormônios e anticoncepcionais não estão indicados para tratamento da infertilidade. A cirurgia por videolaparoscopia com retirada das lesões de endometriose e das aderências pode aumentar as chances de gestação espontânea em mulheres com endometriose em todos os estágios. Em outros casos pode ser necessária a realização de tratamentos com técnicas de reprodução assistida como a inseminação intrauterina ou a fertilização in vitro (bebê de proveta).

O que devo fazer para saber se tenho endometriose?

Dr. Teiichi Ninomiya: Caso você tenha algum dos sintomas, o primeiro passo é se consultar com um médico ginecologista que vai avaliar a possibilidade da endometriose com história clínica e exame físico e solicitar os exames necessários para complementar o diagnóstico. Se a suspeita clínica ou os exames mostrarem lesões sugestivas de endometriose o diagnóstico é bastante provável. A confirmação da doença é feita com a videolaparoscopia com visualização das lesões e com a biópsia mostrando endométrio nas lesões retiradas.

Como é feito o diagnóstico da endometriose?

Dr. Teiichi Ninomiya: O diagnóstico da endometriose é feito através da presença dos sintomas da doença, de achados no exame físico (principalmente no toque vaginal) e da presença de lesões suspeitas nos exames de imagem. Os principais exames complementares utilizados são a ultrassonografia transvaginal com preparo intestinal e ressonância magnética. Outros exames como a ultrassonografia transretal, a colonoscopia, a cistoscopia e urografia excretora podem ser solicitados em algumas situações.

A endometriose é um câncer ou pode se transformar em uma doença maligna?

Dr. Teiichi Ninomiya: Apesar de poder atingir vários órgãos distintos e se disseminar localmente ou à distância a endometriose é uma doença benigna. Até o momento nenhum estudo conseguiu mostrar uma relação importante entre a endometriose e o câncer ou uma evolução da endometriose para uma doença maligna.

O que é o endometrioma?

Dr. Teiichi Ninomiya: Endometrioma é um cisto preenchido por sangue escuro envelhecido e por tecido endometrial. Eles podem acometer um ou ambos os ovários ao mesmo tempo.

O que é endometriose profunda?

Dr. Teiichi Ninomiya: Endometriose profunda é definida pela presença de lesões de endometriose com mais de 5mm de profundidade. Em geral, estas lesões aparecem na forma de nódulos e podem acometer qualquer órgão da pelve, em especial os ligamentos útero-sacros, vagina, intestino e bexiga.

Quais os graus da endometriose?

Dr. Teiichi Ninomiya: Existem várias classificações propostas para a endometriose. O local e tamanho das lesões e das aderências são os fatores considerados pelas classificações atuais. Na prática são utilizadas hoje duas formas de classificação:

  • A primeira classifica a doença em: endometriose superficial (peritoneal), endometriose profunda infiltrativa, endometriose ovariana e endometriose extra pélvica;
  • A segunda forma de classificação que é a mais utilizada em todo o mundo divide a doença em: endometriose mínima (grau I), endometriose leve (grau II), endometriose moderada (grau III) e endometriose severa (grau IV).

 

A endometriose tem cura?

Dr. Teiichi Ninomiya: A endometriose é considerada uma doença crônica, portanto, sem cura definitiva. Entretanto, os tratamentos com cirurgia ou medicamentos específicos podem permitir uma melhor qualidade de vida às portadoras da doença. Alguns estudos recentes mostraram que cirurgias com exérese minuciosa de todas as lesões visíveis podem diminuir ou retardar a recorrência das lesões e dos sintomas de endometriose.

Existe algum remédio para tratar a endometriose?

Dr. Teiichi Ninomiya: Os medicamentos utilizados no tratamento da endometriose não são capazes de promover a cura ou a extinção das lesões. O tratamento medicamentoso tem como objetivo principal a melhora dos sintomas clínicos da doença e eventualmente o retardo na evolução das lesões. As terapêuticas mais prescritas são hormônios que tem a capacidade de inibir a produção de estrogênio pelos ovários e com isso diminuir o estímulo ao crescimento do tecido endometrial dentro e fora do útero (endometriose).  Os anticoncepcionais orais ou injetáveis, de uso cíclico ou contínuo com suspensão ou não da menstruação, medicamentos só com progesterona e os análogos do GnRH são os mais utilizados. O tratamento medicamentoso não deve em hipótese alguma ser feito sem a prescrição e acompanhamento médico.

A cirurgia está sempre indicada para o tratamento da endometriose?

Dr. Teiichi Ninomiya: A cirurgia preferencialmente por videolaparoscopia ainda é a principal forma de tratamento da endometriose. A retirada das lesões e a das aderências permitem uma melhora da qualidade de vida com diminuição ou extinção da dor e possível retorno a fertilidade em mulheres com a doença. Entretanto, em algumas situações a cirurgia não está indicada. O principal motivo para indicação da cirurgia é a presença de sintomas de dor e a infertilidade. Mulheres pouco sintomáticas, com diagnóstico já firmado de endometriose, sem lesões importantes com risco iminente de perda de função de algum órgão, podem se beneficiar do tratamento clínico ao invés da cirurgia.

As lesões de endometriose podem reaparecer após a cirurgia?

Dr. Teiichi Ninomiya: A recorrência das lesões e dos sintomas da endometriose pode ocorrer em 30% a 50% dos casos até dois anos após a cirurgia. Cirurgias incompletas em que não foi possível a retirada de todas das lesões favorece a recidiva precoce dos sintomas e de novas lesões.

A retirada do útero resolve a endometriose?

Dr. Teiichi Ninomiya: Apesar de eliminar a menstruação, não resolve a endometriose. As lesões continuam ou podem reaparecer mesmo sem a presença do útero. Os ovários continuam a produzir o estrogênio, hormônio que estimula a proliferação do tecido endometrial.

A endometriose desaparece após a menopausa?

Dr. Teiichi Ninomiya: Após a menopausa os ovários já não produzem mais o estrogênio, com isso o endométrio ectópico (endometriose) não é mais estimulado e tende a não proliferar. A menstruação também desaparece após a menopausa. Por isso, os sintomas da doença podem diminuir ou desaparecer. Em muitos casos, após a menopausa não há mais necessidade de tratamento.

Fonte: Hospital Nipo-Brasileiro. Imagem: Pixabay.

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