Destaque

População negra é mais intolerante à lactose devido a variantes genéticas

Fonte

UFPR | Universidade Federal do Paraná

Data

quarta-feira. 8 dezembro 2021 10:45

Pesquisadores do Departamento de Genética da Universidade Federal do Paraná (UFPR) analisaram a presença do alelo responsável pela persistência da lactase, enzima essencial para a digestão de laticínios, nas populações negras e quilombola das Américas. A conclusão foi de que a tendência à intolerância à lactose, já alta entre povos americanos, é particularmente sensível para essas populações.

Como o alelo se desenvolveu de forma independente por toda a Europa e em populações pastoralistas da África – dependentes de rebanhos para subsistência –, existem diferentes mutações africanas e apenas uma europeia. Em artigo publicado na revista científica Frontiers in Genetics, os cientistas analisaram a frequência com que cada mutação está presente no continente americano.

Essa e outras pesquisas desenvolvidas no Departamento de Genética da UFPR aspiram contrapor o viés eurocêntrico predominante nos estudos biomédicos do mundo todo e, dessa forma, proporcionar melhores diagnósticos para doenças, permitindo tratamentos mais eficientes para todas as populações.

A enzima lactase é formada por enterócitos do intestino delgado, ou seja, é composta por células responsáveis por quebrar determinadas moléculas, como as da lactose, um açúcar não absorvível presente no leite de mamíferos. Esse processo, chamado de hidrólise, transforma a lactose em glicose e galactose, açúcares de fácil absorção pela mucosa intestinal.

Portanto, a persistência da lactase permite que o indivíduo consuma leite na vida adulta, pois tem um organismo capaz de fazer a digestão da lactose corretamente. Já a hipolactasia primária – ou a não persistência da lactase – está relacionada à indigestão e à má absorção da lactose, que pode ocasionar intolerância à lactose ou outros problemas gastrointestinais, como gases e diarreia. A pesquisa da UFPR avaliou exatamente isso, a persistência ou não da lactase.

Lactase é menos frequente em populações negras

A professora Dra. Marcia Holsbach Beltrame, orientadora do estudo, explicou que a lactase é altamente expressa por recém-nascidos, mas que, com o crescimento, é natural que a enzima deixe de estar presente no organismo, ocasionando a não persistência da lactase.“O normal é que a enzima lactase esteja presente apenas na infância, pois é na fase de amamentação que consumimos leite. Depois, ela para de ser produzida”.

No entanto, essa condição foi modificada pela seleção natural, devido ao hábito de consumir leite, adquirido no decorrer da adaptação humana. “A persistência da lactase é uma característica humana que surgiu junto com o hábito de consumir leite de outros animais na idade adulta em populações humanas ancestrais. Com esse costume, apareceram mutações em diferentes populações humanas que fazem com que essa enzima continue sendo produzida por toda a vida”, destacou a professora Marcia.

Segundo a pesquisadora, as pessoas que tinham essa mutação conseguiam consumir leite de animais sem apresentar os sintomas da intolerância à lactose, o que na época foi uma vantagem enorme na alimentação em populações pastoralistas. “Esse tipo de mutação aumentou de frequência nessas populações, por seleção natural, já que levavam a uma maior chance de sobrevivência e de reprodução dos indivíduos que a portavam. Isso aconteceu de forma independente na África e na Europa, com mutações diferentes”.

Para a realização do estudo, os cientistas da UFPR realizaram sequenciamento genético em brasileiros negros para encontrar a enzima lactase. A pesquisa avaliou os dados genômicos de pessoas negras em todo o continente americano com a parceria do pesquisador Dr. Victor Borda, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Os resultados alcançados revelam que a frequência da persistência da lactase entre a população negra é baixa.

Acesse o artigo científico completo (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da Revista Ciência UFPR.

Fonte: Letícia Barbosa Ribeiro e Jéssica Tokarski, UFPR.

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