Notícia

Refluxo: conceitos, diagnóstico e novas terapias

Refluxo gastroesofágico pode causar vários sintomas desconfortáveis e que alteram a qualidade de vida

Shutterstock

Fonte

FBG, Clínica Mayo, AP&T e AGA

Data

quarta-feira, 30 setembro 2015 13:10

Áreas

Gastroenterologia.

O conceito geral da palavra “refluxo” é vasto: diz-se que ocorre refluxo sempre que algum conteúdo volta (retorna) em direção contrária ao seu escoamento normal dentro de algum tubo, por exemplo. Na fisiopatologia humana, um dos exemplos de ocorrência de refluxo é quando algum conteúdo estomacal retorna pelo esôfago, configurando, portanto, uma alteração digestiva. Neste sentido, existem três possibilidades: o refluxo ácido, a doença do refluxo gastroesofágico e o refluxo laringofaríngeo.

Refluxo ácido e Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE)

Segundo especialistas da Clínica Mayo, nos Estados Unidos, refluxo ácido e doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) estão intimamente relacionados, mas os termos não significam necessariamente a mesma coisa.

Refluxo ácido, também conhecido como refluxo gastroesofágico, é o retorno do fluxo do ácido do estômago para o esôfago – o tubo que liga a garganta e o estômago –  e pode ocorrer ocasionalmente. Durante um episódio de refluxo ácido, você pode saborear a comida regurgitada ou líquido azedo na parte de trás da boca ou sentir uma sensação de queimação no peito (azia).

Às vezes, o refluxo ácido (ocasional) progride para a Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE ou GERD, em inglês), uma forma mais grave de refluxo. O sintoma mais comum da DRGE é a azia freqüente. Outros sinais e sintomas podem incluir a regurgitação de alimentos ou líquidos azedos, dificuldade em engolir, tosse, sibilância e dor torácica – especialmente quando deitado à noite.

Se você tiver refluxo ácido ocasional, mudanças no estilo de vida podem ajudar: perder o excesso de peso, comer refeições menores e evitar alimentos que parecem desencadear azia – tais como alimentos fritos ou gordurosos e chocolate. Evitar álcool e nicotina pode ajudar também.

Já a doença do refluxo gastroesofágico é uma doença digestiva crônica e ocorre quando o ácido do estômago ou, ocasionalmente, o conteúdo do estômago, reflui para o esôfago. Este retorno (refluxo) irrita a mucosa do esôfago e causa a DRGE.

Tanto o refluxo ácido como a azia são problemas digestivos comuns que muitas pessoas experimentam ao longo do tempo. Quando estes sinais e sintomas ocorrem pelo menos duas vezes a cada semana ou interferem com a sua vida diária, ou quando o seu médico pode ver danos ao seu esôfago, você pode ser diagnosticado com DRGE.

A maioria das pessoas pode gerenciar o desconforto da DRGE com as mudanças de estilo de vida e medicamentos leves. Mas algumas pessoas com DRGE podem precisar de medicamentos mais fortes, ou até mesmo cirurgia, para controlar os sintomas.

Refluxo Laringofaríngeo

Segundo a Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG), o conteúdo ácido presente no estômago pode retornar pelo esôfago passivamente, chegar até a garganta e causar lesões e sintomas. Este é o chamado Refluxo Laringofaríngeo (RLF). Os sintomas e o tratamento são diferentes do refluxo que se manifesta no esôfago, cujos principais sintomas são azia e regurgitação.

A melhora do RLF depende de um diagnóstico preciso e tratamento adequado. Pacientes com desconforto na garganta podem ser surpreendidos com diagnóstico de refluxo gastroesofágico, pois boa parte não apresenta azia ou regurgitação.

Refluxo Laringofaríngeo  (RLF)  X  Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE)

Especialistas da FBG alertam para as diferenças entre o RLF e a DRGE: o RLF pode causar inflamações ao atingir as cordas vocais provocando manifestações clínicas como:

• Incômodo na garganta;

• Necessidade de limpar a garganta com muita frequência (pigarro);

• Tosse;

• Sensação de algo preso na garganta (globus).

Apesar de possuir a mesma base fisiopatológica, o RLF é considerado diferente da DRGE clássica que possui como principais características:

• Azia e/ou regurgitação;

• Boa resposta ao tratamento medicamentoso;

• Pode evoluir para esofagite erosiva, estreitamentos e esôfago de Barrett.

O paciente com RLF geralmente não apresenta azia  e/ou regurgitação, já que a quantidade de líquidos e gases que retorna é muito pequena. O tratamento necessita de doses maiores, tempo mais prolongado e possui uma resposta clínica irregular. Além disso, raramente o paciente desenvolve alguma complicação no esôfago.  Essa doença pode se agravar em pessoas que usam a voz com maior frequência, como professores e cantores.

Como é feito diagnóstico de refluxo laringofaríngeo?

Além de analisar cautelosamente os sinais e sintomas do RLF, o médico deve solicitar uma laringoscopia. Por meio desse exame, o especialista pode verificar o estado das cordas vocais, descartar outras doenças e analisar as evidências de RLF. Quanto mais intensa a inflamação, maior a possibilidade de refluxo gastroesofágico estar associado.

Quais outros exames podem contribuir para o diagnóstico de refluxo gastroesofágico?

Segundo a FBG, os exames adequados para  o diagnóstico da DRGE são:

• Endoscopia Digestiva;

• pHmetria Esofágica Prolongada;

• ImpedanciopHmetria esofágica.

Esses exames podem ser solicitados quando há suspeita de RLF, a fim de se excluir DRGE e evitar tratamentos prolongados e desnecessários. A ImpedanciopHmetria é o exame mais sensível quando há tosse associada, pois faz uma correlação direta do refluxo gastroesofágico ácido e não ácido com a tosse.

Qual tratamento atual mais adequado?

O refluxo precisa ser bem controlado com uso de duas doses diárias de inibidor de bomba de prótons (omeprazol, pantoprazol, lansoprazol, rabeprazol ou esomeprazol). Esta medicação pode ser associada a um antiácido à base de alginato, especialmente ao deitar. É preciso ter atenção à higiene bucal, ingerir muito líquido para evitar a sensação desagradável de boca seca e evitar a ingestão de bebidas alcoólicas, com cafeína, antialérgicos e balas mentoladas, pois são produtos que contém substâncias que ressecam a garganta e as cordas vocais. O tabagismo deve ser eliminado. Também é importante tomar cuidados com a voz, evitando gritar, sussurrar, falar por longos períodos sem interrupção e pigarrear.

Com relação aos indivíduos que fazem uso de medicamentos, deve haver uma avaliação frequente, já que a dosagem pode ser alterada e até mesmo interrompida, definida pela resposta clínica. Caso o problema persista, a laringoscopia deve ser repetida. Raramente os pacientes com RLF necessitam de uma intervenção cirúrgica para controle do refluxo gastroesofágico.

Novas terapias

Pesquisadores das Universidades de Utrecht e Maastricht, na Holanda, e colegas pesquisadores de várias instituições da China, Nova Zelândia, Colômbia, Chile, Índia e México publicaram um estudo multi-institucional sobre a aplicação de terapia de estimulação elétrica no esfíncter esofágico para o tratamento da DRGE. O estudo foi publicado na edição de setembro da revista científica Alimentary Pharmacology and Therapeutics.

Os pesquisadores avaliaram prospectivamente a segurança e eficácia da estimulação elétrica em 42 pacientes com DRGE crônica (definida por sintomas e monitoramento do pH) e alívio incompleto com inibidor de bomba de prótons. Todos os pacientes foram submetidos à colocação do dispositivo via laparoscopia, com os eletrodos colocados na camada muscular do esfíncter e comandados por uma bolsa subcutânea na parede abdominal.

Com os resultados obtidos, a terapia com estimulação elétrica se mostrou promissora no tratamento da doença do refluxo gastroesofágico refratário, particularmente para os sintomas de regurgitação. Dados preliminares sugerem melhora clínica da doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) com a terapia de estimulação elétrica do esfíncter esofágico inferior

Outra solução que pode ser aplicada a pacientes que apresentam dificuldade de controle da DRGE apenas com medicação, em casos específicos, é a chamada Fundoplicatura Laparoscópica de Nissen. Uma revisão muito interessante deste procedimento foi publicada em setembro pela Associação Americana de Gastroenterologia, em um artigo assinado pelo Dr. John Hunter e Dr. Peter Kahrilas.

Fontes:

Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG)

Clínica Mayo

Revista científica Alimentary, Pharmacology and Therapeutics (AP&T)

Associação Americana de Gastroenterologia.(AGA)

 

Fontes: FBG, Clínica Mayo, AP&T e AGA. Imagem: Shutterstock.

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