Notícia

Programa de treino em pacientes psiquiátricos crônicos contribui para o desenvolvimento cognitivo e motor

Intervenções que combinam componentes cognitivas e motoras podem ajudar a prevenir, por exemplo, doenças cardiovasculares e metabólicas

Marta Costa, Universidade de Coimbra

Fonte

Universidade de Coimbra

Data

quinta-feira, 5 janeiro 2023 15:05

Áreas

Envelhecimento. Inclusão Social. Neurociências. Psicologia. Psiquiatria. Saúde Mental.

Uma equipe de pesquisa, coordenada pelo Centro de Investigação em Neuropsicologia e Intervenção Cognitivo-Comportamental (CINEICC) da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra e pelo NeuroRehabLab da Universidade da Madeira, em Portugal, testou um programa de treino cognitivo computadorizado, composto por atividades cognitivas e motoras, em pacientes psiquiátricos crônicos – com, por exemplo, quadros clínicos psiquiátricos de esquizofrenia, perturbação depressiva e transtorno bipolar –  que residem em unidades de longo internamento.

O treino cognitivo computorizado, denominado Full-Body Interaction Cognitive Training (FBI-CT), revelou impactos positivos em indicadores cognitivos, tais como velocidade de processamento, atenção sustentada por curtos períodos de tempo e memória verbal, como também em indicadores não cognitivos, como diminuição da sintomatologia depressiva.

Com o estudo, a equipe procurou “avaliar a viabilidade e a aceitabilidade do programa, bem como analisar o seu impacto em indicadores cognitivos (por exemplo, atenção, memória, funções executivas) e não cognitivos (como qualidade de vida, capacidade funcional e estado emocional)”, contextualizou Joana Câmara, doutoranda do CINEICC e primeira autora do estudo. “Até esta data, são ainda escassos os estudos científicos que avaliam o impacto de intervenções combinadas com enfoque funcional em população psiquiátrica, sendo este um tema inovador no processo de intervenção terapêutica nestes quadros clínicos”, explicou Joana.

Segundo o Estudo Epidemiológico Nacional de Saúde Mental de Portugal, “mais de um quinto dos portugueses (22.9%) apresenta uma patologia psiquiátrica, número que seguramente tem crescido desde a pandemia”, destacou Joana Câmara. Paralelamente, “a literatura científica revela que a população psiquiátrica apresenta déficits cognitivos persistentes que comprometem a sua adesão à terapêutica, a qualidade de vida e a capacidade funcional e, por essa razão, esta população tende a ser mais sedentária do que a população em geral, sendo mais suscetível de desenvolver doenças cardiovasculares e metabólicas que agravam a sua condição clínica e que afetam o seu funcionamento cognitivo”, acrescentou.

Neste sentido, a implementação de intervenções junto desta população, especialmente as que combinam componentes cognitivas e motoras, “pode ajudar a fazer frente às consequências negativas previamente mencionadas e tem ainda a vantagem de ser mais viável num contexto de internamento psiquiátrico, onde os recursos humanos e o tempo para intervir são limitados”, continuou a pesquisadora.

Foram realizadas 14 sessões, de 30 minutos cada, administradas três vezes por semana a 18 participantes. Uma parte do grupo de pacientes frequentou o programa em formato de intervenção combinada (mais dinâmico), no qual o conteúdo do treino cognitivo foi projetado numa parede com os participantes resolvendo tarefas através da realização de movimentos detectados por Kinect (sensor de movimentos). O restante grupo frequentou o programa de treino considerado mais passivo, em que os participantes resolveram as tarefas de treino cognitivo num tablet.

O treino foi desenvolvido com recurso à plataforma Musiquence, que permite a personalização do treino em função das características do usuário. As sessões do programa foram organizadas por temáticas funcionais distintas, com o objetivo de aproximar as tarefas de treino cognitivo a ações que as pessoas têm de realizar na vida real, tendo em vista o treino de competências funcionais e a promoção do envolvimento e motivação. As temáticas abordadas incluíram a comunicação funcional, o uso de transportes públicos, o preparo de refeições, a ida às compras, a gestão financeira e a gestão de questões relacionadas com a saúde.

Depois da participação nas 14 sessões do programa, as participantes foram acompanhadas no momento pós-intervenção e também passados três meses. No acompanhamento após as sessões, foi possível atestar a “viabilidade e aceitabilidade do programa, bem como níveis elevados de satisfação na sequência da intervenção”, explicou Joana Câmara.

O grupo de pacientes que frequentou a intervenção combinada “apresentou níveis de satisfação ligeiramente mais elevados, possivelmente pelo facto de esta implicar uma interação mais dinâmica e multissensorial, apresentando melhorias significativas em indicadores cognitivos, tais como velocidade de processamento, atenção sustentada por curtos períodos de tempo e memória verbal, e em indicadores não cognitivos, como diminuição da sintomatologia depressiva”, destacou a doutoranda da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra. No caso do grupo que frequentou as sessões com recurso ao uso de tablet, “evidenciaram ganhos significativos, mas apenas em indicadores cognitivos, incluindo a atenção sustentada por longos períodos de tempo, a memória verbal e as funções executivas”, disse Joana Câmara. No acompanhamento que decorreu três meses depois, “os participantes de ambos os grupos foram reavaliados e verificou-se que o primeiro grupo manteve os ganhos obtidos na memória verbal, bem como a diminuição na sintomatologia depressiva”, concluiu a pesquisadora.

Os resultados da pesquisa foram publicados na revista científica Games for Health Journal.

Acesse o artigo científico completo (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da Universidade de Coimbra.

Fonte: Catarina Ribeiro, Universidade de Coimbra. Imagem: Marta Costa, Universidade de Coimbra.

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