Notícia

Novo método de terapia fotodinâmica poderia erradicar o melanoma ocular

Em testes inéditos realizados com camundongos, a irradiação com laser pulsado de femtosegundo se mostrou eficaz e segura, abrindo caminho para um tratamento direcionado e minimamente invasivo da doença no futuro

Wikimedia Commons

Fonte

Agência FAPESP

Data

domingo, 12 maio 2024 18:15

Áreas

Bioengenharia. Biofísica. Biologia. Física Médica. Fotônica. Medicina. Oftalmologia. Oncologia. Saúde Pública.

Pesquisadores do Centro de Pesquisa em Óptica e Fotônica, um CEPID da FAPESP alocado no Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo (IFSC-USP), juntamente com colaboradores da Universidade de Toronto e do Princess Margaret Cancer Center, no Canadá, reportaram pela primeira vez o uso eficaz de um tipo específico de fototerapia para erradicar o melanoma ocular em camundongos. Baseada em laser pulsado, a técnica envolve a aplicação de uma grande quantidade de luz por um curto período de tempo para a ativação de um fármaco.

O estudo, publicado recentemente na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), abre caminho para um possível tratamento futuro menos drástico para a doença. As estratégias atuais apresentam baixa efetividade e envolvem, em muitos casos, radiação ionizante e remoção do olho afetado do paciente.

Técnica já utilizada no tratamento do carcinoma basocelular (tipo mais comum de câncer de pele), a terapia fotodinâmica envolve o uso da luz para a ativação de fármacos, em condições adequadas de radiação e na presença de oxigênio (todas as células – de câncer ou normais – precisam do oxigênio para realizar suas funções metabólicas). O melanoma, um dos tipos de câncer mais agressivos, no entanto, tem se mostrado um desafio, por conta da melanina, um pigmento escuro que compete com o medicamento fotossensibilizador pela absorção da luz.

Outra dificuldade é que biomoléculas como a melanina fazem com que os fótons (partículas que compõem a luz) mudem sua direção de propagação e se espalhem. Dessa forma, poucos vão verdadeiramente ser transmitidos e atingir tecidos mais profundos.

Para otimizar a resposta da terapia fotodinâmica nos melanomas cutâneos, esse mesmo grupo de pesquisa já havia testado com sucesso a associação com agentes clareadores ópticos, que modificam as propriedades ópticas do tumor previamente, permitindo maior penetração da luz. Neste estudo, financiado pela FAPESP, foi a vez de testar uma estratégia eficaz para os melanomas oculares, que impõem ainda mais dificuldade de tratamento por sua localização.

Os cientistas investigaram um regime de irradiação de lasers pulsados chamado femtossegundo. Esse tipo de laser é capaz de fornecer uma grande quantidade de energia em um tempo extremamente curto – num pulso de 10-15 segundos e localizado, diminuindo o risco de dano em tecido sadio adjacente.

Os testes foram realizados com camundongos doentes que, após serem submetidos à terapia para a ativação do fármaco Visudyne, utilizado para o tratamento da degeneração macular, passaram a não apresentar nenhum tumor residual visível.

“Observamos que o método nos permite entregar dois fótons, com metade da energia necessária cada, e, como isso ocorre em um período de tempo extremamente curto, a molécula biológica basicamente não percebe, permitindo sua chegada”, explicou a Dra. Cristina Kurachi, professora do IFSC-USP e coordenadora do estudo pela equipe brasileira – a equipe canadense foi liderada pelo Dr. Brian Wilson, professor do Departamento de Biofísica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade de Toronto. “Foi a primeira vez que isso foi reportado em publicações científicas.”

“Ainda mais interessante: a técnica foi mais eficaz nos tumores pigmentados, mostrando que a melanina atua como um mediador do tratamento”, completou a Dra. Layla Pires, pesquisadora do Princess Margaret Cancer Center e do IFSC-USP. “Esses resultados trazem uma nova perspectiva na área de biofotônica e quebram o paradigma de que lesões pigmentadas não podem ser erradicadas com terapias à base de luz.”

Também foi demonstrado que o método é seguro, uma vez que não causou danos nas estruturas adjacentes. “O tratamento se mostrou altamente seletivo e efetivo”, relatou a Dra. Cristina Kurachi.

A pesquisadora citou ainda outra possível vantagem em potencial da terapia fotodinâmica: diversos estudos ao redor do mundo vêm indicando sua capacidade de induzir a resposta imunológica, melhorando a ativação do sistema imune do próprio organismo para também atuar nessa eliminação de tumores.

Acesse o artigo científico completo (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da Agência FAPESP.

Fonte: Julia Moióli, Agência FAPESP. Imagem: filamento de laser femtossegundo. Fonte: Wikimedia Commons.

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