Notícia

Novembro Azul: diagnóstico precoce sem preconceito

Debates sobre o câncer de próstata não raramente são marcados por tabus, que muitas vezes são baseados em mitos que atrapalham a difusão de informações sobre a importância da prevenção

Divulgação

Fonte

UFOP | Universidade Federal de Ouro Preto

Data

sexta-feira, 19 novembro 2021 15:35

Áreas

Medicina. Oncologia. Saúde Pública.

O câncer de próstata é o tipo de câncer que mais atinge homens no Brasil, representando 30% dos casos. Mesmo assim, os debates sobre essa doença não raramente são marcados por tabus, que muitas vezes são baseados em mitos que atrapalham a difusão de informações sobre a importância da prevenção.

Nesse sentido, a campanha Novembro Azul vem para alertar os homens sobre a urgência do diálogo sobre o câncer de próstata e para “incentivar que o homem tenha um médico urologista de confiança, para acompanhá-lo anualmente e, assim, garantir os exames em dia”, como destacou o Dr. Luiz Eduardo de Sousa, professor do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). O professor Luiz Eduardo de Souza concedeu entrevista à seção ‘Em Discussão’, da UFOP, para reforçar a importância de estar atento ao diagnóstico precoce do câncer de próstata:

UFOP: Professor, assim como no Outubro Rosa, a mobilização do Novembro Azul é importante para lembrar da urgência de dialogar e combater o câncer de próstata, além de outros tipos de câncer. Qual a importância deste mês na conscientização da população sobre essa doença?

Professor Luiz Eduardo de Sousa: O Novembro Azul é importante pois funciona como um lembrete para os homens se atentarem à prevenção e ao tratamento do câncer de próstata. Assim como os outros meses relacionados a doenças, novembro reforça a importância das práticas de prevenção, além de pressionar a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), fazendo com que ela regularize os planos de saúde privados, para que cubram os exames preventivos, o tratamento e a reabilitação pós-cirurgia ou a prostatectomia, que é o processo de retirada da próstata. Também, o mês de novembro incentiva que o homem tenha um médico urologista de confiança para acompanhá-lo anualmente e, assim, garantir os exames em dia.

UFOP: Em suas pesquisas, você verifica dificuldades dos homens em falar sobre o câncer de próstata?

Professor Luiz Eduardo de Sousa: No projeto de extensão Educanato, nós atendemos diversos homens de Ouro Preto, e alguns realmente apresentavam uma dificuldade ou timidez para falar sobre o problema. Quando o homem pensa sobre o toque retal, não raramente surgem preconceitos e brincadeiras, o que faz com que se negue a fazer o exame. Então, infelizmente, ainda existe esse tabu para uma parcela da população masculina, e ele é fruto do desconhecimento sobre os exames relacionados ao rastreio do câncer de próstata.

UFOP: Professor, você acredita que esse tabu que envolve o exame de toque atrapalha o diálogo sobre o câncer de próstata?

Professor Luiz Eduardo de Sousa: O exame de toque retal é um exame em que o médico urologista avalia a anatomia da próstata através do toque, com o dedo indicador. Percebe-se, então, a presença de nódulos endurecidos, se a próstata está crescida ou não e se sua anatomia está da maneira que deveria. O toque retal não afeta a masculinidade de forma alguma, e além de ser indolor, seguro e rápido, é o exame mais efetivo para detectar o câncer de próstata em seu estágio inicial. Assim, o exame torna-se essencial, pois, se detectado precocemente, as chances de cura do câncer de próstata podem chegar a 80%. E esse tabu não apenas atrapalha o diálogo sobre a doença, como também faz com que os homens não procurem urologistas. Então, é algo que tem que ser conversado, tem que ser colocado na mídia e tem que ser debatido em sala de aula. E as mulheres também têm um papel importante na desconstrução desse tabu, pois muitas vezes orientam e convencem seus companheiros, familiares e amigos a realizarem o exame.

UFOP: Quando falamos sobre câncer, é comum as pessoas tentarem estigmatizar o paciente por hábitos ou padrões de comportamento. No caso do câncer de próstata — que atualmente é um dos tipos de câncer mais frequentes em homens —, você acredita que ainda existam tais estigmas?

Professor Luiz Eduardo de Sousa: Durante um projeto de pesquisa, desenvolvemos algumas questões que deveriam ser respondidas pelos entrevistados. Nele, havia uma pergunta como “o que você acha que está relacionado ao desenvolvimento de câncer de próstata?”. Algumas pessoas responderam que fazer pouco sexo é um dos fatores, o que não tem nenhum embasamento científico. O câncer de próstata é o tipo de câncer que mais atinge os homens e deve ser tratado com bastante atenção e cuidado. Só para se ter uma ideia, em 2020 houve 65 mil novos casos de câncer de próstata no Brasil, sendo que, só em Minas Gerais, temos algo em torno de 9 mil novos casos.

UFOP: Além da genética, quais outros fatores estão associados a maiores riscos de desenvolvimento de câncer de próstata?

Professor Luiz Eduardo de Sousa: Dos fatores de risco que realmente têm alguma relação com o câncer de próstata, o primeiro é a idade. O envelhecimento — principalmente após os 50 anos — aumenta as chances de desenvolvimento da doença e de mortalidade. O fator genético também tem grande relevância, e homens com a doença em seu histórico familiar devem procurar um médico entre os 40 e 45 anos. Outros fatores como excesso de gordura corporal, exposição a determinados agentes químicos, como poluentes de automóveis e agrotóxicos, também apresentam relação com o desenvolvimento do câncer de próstata. Recentemente, alguns estudos também sugerem que o consumo em excesso de carnes vermelhas e alimentos embutidos (linguiças, presunto, salame e outros), também estão relacionados a uma maior chance de morbidade, mas ainda não existe nada concreto sobre isso.

UFOP: Em um de seus projetos, você fala sobre a importância de os homens conhecerem a própria anatomia para participarem mais ativamente do cuidado com a saúde. Como você acredita que podemos melhorar nesse aspecto?

Professor Luiz Eduardo de Sousa: O projeto Educanato é um projeto de extensão que busca informar a população sobre questões relacionadas à saúde, usando a anatomia humana como pano de fundo. Quando falamos sobre o câncer de próstata, existe uma relação muito óbvia com a anatomia humana e os sintomas. Então, quando mostramos e explicamos a anatomia do homem, eles entendem que a próstata está próxima do reto, e que, por isso o médico consegue examinar a próstata pelo toque retal, pois alguns sintomas, como a dificuldade de urinar podem estar relacionados ao câncer de próstata etc. Isso nos mostrou que por meio do estudo da anatomia, várias questões relacionadas à saúde podem ser esclarecidas.

UFOP: Durante a pandemia, o número de consultas urológicas caiu drasticamente, de acordo com dados do Ministério da Saúde. Agora, com a flexibilização de muitas atividades, você julga importante colocar os exames em dia?

Professor Luiz Eduardo de Sousa: A questão da pandemia afetou todos os procedimentos eletivos, como exames e procedimentos menos urgentes, que foram suspensos no início de 2020 até meados de julho do mesmo ano, quando começaram a debater a retomada dos exames oncológicos, dada a gravidade dessas doenças. Em 2021, com o avanço da vacinação e os casos de COVID-19 diminuindo consideravelmente, os exames já estão quase normalizados. Por isso, os homens devem voltar a procurar seus médicos urologistas para retornar com os exames. É claro que os riscos devem ser considerados, levando em conta a questão epidemiológica de cada município, mas, em um panorama geral, os homens já não têm mais justificativas para não procurar um médico urologista.

Acesse a notícia completa na página da UFOP.

Fonte: Leonardo Grein e Patrícia Pereira, Universidade Federal de Ouro Preto. Imagem: Divulgação.

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