Notícia

Estratégias protetoras de ventilação são testadas em pacientes com COVID-19

Pesquisadores da USP buscam ajustar o gradiente da pressão que é feita pelo respirador no pulmão do convalescente, de modo que o ar possa entrar e sair sem causar danos

Shutterstock

Fonte

Agência FAPESP

Data

quinta-feira, 23 julho 2020 13:45

Áreas

Biomecânica. Medicina. Medicina Intensiva. Saúde Pública. Ventilação Mecânica.

Ao receber um paciente com insuficiência respiratória grave causada por COVID-19 nos hospitais, as equipes médicas enfrentam um dilema. A intubação pode agravar o quadro do paciente, uma vez que a energia mecânica do ventilador pulmonar se soma aos efeitos deletérios causados pelo novo coronavírus, aumentando a inflamação nos pulmões.

Por outro lado, se o paciente estiver com muita falta de ar, a força que faz naturalmente para inspirar – chamada ventilação mecânica espontânea – pode causar o mesmo nível de inflamação provocada pela ventilação artificial ou até mesmo causar mais edema alveolar devido à pressão negativa gerada dentro do tórax.

“A ventilação espontânea pode ser tão ou mais maléfica do que o ventilador mecânico. Quando se evita a ventilação artificial, a força que o próprio paciente faz ao respirar sem ajuda do ventilador pode ser muito pior”, disse o Dr. Marcelo Amato, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e um dos coordenadores do Laboratório de Investigação Médica em Pneumologia (LIM-09) do Hospital das Clínicas da FMUSP (HC-FMUSP)

A fim de tentar solucionar esse dilema, o pesquisador, em colaboração com colegas do Brasil e do exterior, desenvolveu e implementou nos últimos meses estratégias protetoras de ventilação de pacientes com COVID-19 em estado grave, baseadas em resultados de estudos que fizeram nos últimos anos com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).

Algumas estratégias, empregadas no tratamento de pacientes atendidos no HC-FMUSP, foram descritas pelo Dr. Marcelo Amato durante um debate on-line sobre a situação da epidemia de COVID-19 no Brasil que ocorreu no último dia 13 de julho, durante a “Mini Reunião Anual Virtual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC)”.

evento foi uma versão on-line e reduzida da 72ª Reunião Anual da entidade, que aconteceria de 12 a 18 de julho, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em Natal, e foi cancelada em razão da pandemia.

De acordo com o Dr. Marcelo Amato, uma das principais estratégias de ventilação que adotaram para tratar pacientes com COVID-19 foi buscar identificar o melhor ajuste do gradiente de pressão que precisa ser feito no pulmão do convalescente pelo ventilador mecânico, de modo que o ar possa entrar e sair sem causar danos. Essa variável depende de um equilíbrio delicado entre a pressão exercida pelo ventilador mecânico e a do músculo respiratório dos pacientes. “Precisamos sempre adequar essa combinação de fatores”, destacou o Dr. Amato.

A constatação foi reiterada durante a pandemia de COVID-19, em um estudo randomizado que está sendo conduzido com 100 pacientes e que, segundo o Dr. Marcelo Amato, já demonstrou alguns resultados animadores. “Quanto mais energia mecânica do ventilador for aplicada no pulmão, menor será a função pulmonar e maior é a quantidade de fibrose pulmonar que o paciente terá ao longo do tempo”, explicou o pesquisador.

Essa correlação foi demonstrada em um estudo recente com sobreviventes de um quadro de insuficiência respiratória aguda, semelhante ao encontrado em pacientes com COVID-19, contou o Dr. Amato. “Temos pacientes com COVID-19 na UTI que estão há dois meses recebendo ventilação mecânica e sem perspectiva de sair dessa condição em razão de extensas fibroses pulmonares. Isso está acontecendo diariamente em UTIs em outros lugares no Brasil e no mundo”, afirmou o especialista.

Variabilidade individual

Outra estratégia protetora de ventilação testada pelos pesquisadores no HC-FMUSP em um paciente com quadro crítico de insuficiência respiratória causada pela COVID-19 foi a de controlar o esforço respiratório antes da intubação. Para isso foram feitas algumas manobras associadas. Entre elas, a colocação de um cateter no nariz para lavar e remover moléculas de CO2 e diminuir o estímulo neural para o paciente respirar, associado ao uso de uma espécie de capacete ao redor do pescoço, que pressuriza o tórax e abaixa a posição do diafragma de modo a torná-lo menos potente, reduzindo assim a força (estresse) aplicada sobre o tecido pulmonar.

“Após cinco dias dessa terapêutica, conseguimos diminuir bastante o grau de inflamação e edema pulmonar dos pacientes, sem a utilização de medicamentos”, afirmou o médico pneumologista.

Por meio de um tomógrafo por impedância elétrica, os pesquisadores também têm avaliado a situação do pulmão dos pacientes com COVID-19 internados no HC-FMUSP ininterruptamente e de forma não invasiva. Desenvolvido no Brasil pela startup Timpel, com apoio do Programa FAPESP Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), o equipamento permite monitorar e otimizar a ventilação artificial em pacientes em tratamento intensivo com os objetivos de minimizar os efeitos colaterais e diminuir o tempo de dependência de ventilação mecânica.

As análises feitas por meio do equipamento indicaram que há uma grande variabilidade individual da condição de proteção pulmonar dos pacientes, influenciada pelo peso, doenças preexistentes, características anatômicas e o sexo, entre outros fatores. “Se não pensarmos em uma terapia individualizada para o paciente, tudo o que se faz em termos de utilização de ventilação mecânica é inútil”, explicou o Dr. Amato.

“Cada paciente tem uma fisiologia própria que precisa ser respeitada, ainda mais no caso da COVID-19, que é uma doença inflamatória em que um erro na ventilação se soma à inflamação causada pela própria doença”, concluiu o especialista.

Acesse a notícia na página da Agência FAPESP.

Fonte: Elton Alisson, Agência FAPESP. Imagem: Shutterstock.

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