Notícia

Desenvolvimento cerebral do sistema visual é diferente em bebês que desenvolvem autismo

Pesquisa usou imagens de ressonância magnética para documentar diferenças cruciais no sistema de processamento visual nos cérebros de bebês que passaram a desenvolver autismo

Divulgação, Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill

Fonte

Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill

Data

sexta-feira, 17 junho 2022 14:20

Áreas

Genética. Imagens e Diagnóstico. Medicina. Neurociências. Psiquiatria. Saúde da Criança.

Pela primeira vez, cientistas descobriram que as diferenças nos sistemas cerebrais visuais de bebês que mais tarde desenvolvem autismo estão associadas a fatores genéticos herdados.

Publicada na revista científica American Journal of Psychiatry, a pesquisa mostrou que as alterações cerebrais no tamanho, integridade da substância branca e conectividade funcional dos sistemas de processamento visual de crianças de seis meses são evidentes bem antes de apresentarem sintomas de autismo quando crianças. Além disso, a presença de alterações cerebrais no sistema visual está associada à gravidade dos traços de autismo em seus irmãos mais velhos.

Liderada pela Dra. Jessica Girault, professora de Psiquiatria na Faculdade de Medicina da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill (UNC-Chapel Hill), nos Estados Unidos, esta é a primeira pesquisa a observar que bebês com irmãos mais velhos que têm autismo e que mais tarde desenvolvem autismo como crianças pequenas têm diferenças biológicas específicas em regiões de processamento visual do cérebro e que essas características cerebrais precedem o aparecimento de sintomas do autismo. A presença dessas diferenças de processamento visual está relacionada a quão pronunciados são os traços de autismo nos irmãos mais velhos.

“Estamos começando a analisar diferenças no desenvolvimento do cérebro infantil que podem estar relacionadas a fatores genéticos”, disse a Dra. Jessica Girault, que também é membro do Instituto Carolina para Deficiências do Desenvolvimento. “Usando imagens de ressonância magnética, estudamos estruturas selecionadas do cérebro, a relação funcional entre as principais regiões do cérebro e a microestrutura das conexões da substância branca entre essas regiões do cérebro. As descobertas de todos os três [estudos] nos apontaram para a descoberta de diferenças únicas nos sistemas visuais de bebês que mais tarde desenvolveram autismo”.

Como parte da Infant Brain Imaging Study Network (IBIS Network), financiada pelos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos Estados Unidos, pesquisadores da UNC-Chapel Hill e da Universidade de Washington lideraram este estudo inédito.

Atrás dos olhos do bebê

Quando os olhares de pais e bebês se unem, os bebês aprendem a interpretar pistas sutis sobre seu ambiente. É a maneira como os bebês aprendem a relacionar os comportamentos do cuidador com os seus próprios. Esse ritmo visual durante os primeiros anos de vida é crucial para o desenvolvimento cognitivo, emocional e social. Em bebês que desenvolvem autismo, esta pesquisa sugere que algo dá errado no sistema visual do cérebro que afeta essa interação visual.

Nos últimos anos, pesquisadores usaram imagens de ressonância magnética para documentar diferenças cerebrais em bebês que mais tarde desenvolvem autismo no segundo ano de vida. Em 2020, a pesquisa da Dra. Jessica Girault mostrou que irmãos mais novos eram muito mais propensos a desenvolver autismo se seus irmãos autistas mais velhos tivessem níveis mais altos de traços autistas.

“Isso sugere que esses traços autistas nos dizem algo sobre a força dos fatores genéticos para o autismo dentro de uma família. Mas não poderíamos dizer muito mais além disso. Este estudo atual leva nosso trabalho um passo à frente”, destacou a pesquisadora.

Para este estudo, os pesquisadores da IBIS Network recrutaram 384 pares de irmãos. A criança mais velha de cada par já havia sido diagnosticada com autismo, o que colocou o irmão mais novo em maior probabilidade de desenvolver autismo. Em seguida, os pesquisadores usaram várias abordagens de ressonância magnética para estudar em detalhes os cérebros dos irmãos mais novos aos 6, 12 e 24 meses de idade.

Os pesquisadores mediram o volume cerebral e a área da superfície do cérebro na região do cérebro envolvida com a visão (o córtex occipital) – estruturas que essa equipe de pesquisa havia mostrado anteriormente como alteradas em bebês que desenvolveram autismo quando crianças. Eles também examinaram a microestrutura da substância branca do esplênio, uma estrutura que os pesquisadores mostraram anteriormente estar relacionada à rapidez com que os bebês se orientam a estímulos visuais em seus ambientes. Ao mesmo tempo, os pesquisadores documentaram o nível de traços autistas nos irmãos autistas mais velhos desses bebês.

A Dra. Jessica Girault e seus colegas identificaram diferenças cerebrais em duas partes do sistema de processamento visual – o giro occipital, que é importante para o reconhecimento de objetos, e o esplênio, que é importante para a comunicação entre diferentes partes hemisféricas do sistema visual. O esplênio também é crucial para orientar rapidamente nossa atenção para as coisas que vemos ao nosso redor.

“É particularmente notável que fomos capazes de demonstrar associações entre descobertas cerebrais em bebês e o comportamento de seus irmãos mais velhos com autismo”, disse o Dr. John R. Pruett Jr., coautor sênior do estudo e professor de Psiquiatria da Escola de Medicina da Universidade de Washington. “A convergência de resultados de imagens de ressonância magnética funcional em todo o cérebro – e com base em dados das descobertas estruturais e de difusão –  fortalece nossa confiança na futura replicação dessas descobertas, que podem ser testadas na nova coorte de 250 bebês de alta probabilidade familiar que estamos recrutando atualmente”, continuou o pesquisador.

Mais pesquisas são necessárias, mas o estudo aponta na direção de intervenções comportamentais direcionadas aos sistemas cerebrais visuais e relacionados no primeiro ano de vida em bebês com maior probabilidade de desenvolver autismo com base em fatores de risco herdados. Tais intervenções teriam como objetivo diminuir a probabilidade de as crianças desenvolverem certos traços de autismo mais graves.

Acesse o artigo científico completo (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill (em inglês).

Fonte: UNC Health/Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill. Imagem: Localizações anatômicas do esplênio (amarelo) e giro occipital médio direito (vermelho) em um cérebro infantil representativo. Fonte: Divulgação, Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill.

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