Notícia

Como a acupuntura pode combater a inflamação?

Foi descoberto que um subconjunto de neurônios nos membros posteriores desencadeia uma resposta anti-inflamatória quando a acupuntura é aplicada

Thirdman via Pexels

Fonte

Universidade Harvard

Data

segunda-feira, 8 novembro 2021 06:40

Áreas

Acupuntura. Biologia. Medicina.

A acupuntura é uma técnica tradicional chinesa usada há milênios para tratar a dor crônica e outros problemas de saúde associados à inflamação, mas a base científica da técnica permanece pouco conhecida.

Recentemente, uma equipe de pesquisadores liderada por neurocientistas da Escola Médica de Harvard, nos Estados Unidos, elucidou a neuroanatomia subjacente da acupuntura que ativa uma via de sinalização específica. Em um estudo realizado em camundongos e publicado em na revista científica Nature, a equipe identificou um subconjunto de neurônios que devem estar presentes para que a acupuntura desencadeie uma resposta anti-inflamatória por meio dessa via de sinalização.

Os cientistas determinaram que esses neurônios ocorrem apenas em uma área específica da região do membro posterior – explicando assim porque a acupuntura no membro posterior funciona, enquanto a acupuntura no abdômen não. “Este estudo toca em uma das questões mais fundamentais no campo da acupuntura: Qual é a base neuroanatômica para a seletividade da região do corpo, ou ponto de acupuntura?” disse o Dr. Qiufu Ma, pesquisador principal e professor de neurobiologia da Escola Médica de Harvard no Instituto de Câncer Dana-Farber.

Uma área de interesse particular para a equipe de pesquisa é a chamada tempestade de citocinas – a rápida liberação de grandes quantidades de citocinas que frequentemente leva à inflamação sistêmica severa e pode ser desencadeada por muitas coisas, incluindo a COVID-19, tratamento de câncer ou sepse.

“Esta resposta imune exuberante é um grande problema médico com uma taxa de mortalidade muito alta, de 15% a 30%”, disse o Dr. Qiufu Ma. Mesmo assim, faltam medicamentos para tratar a tempestade de citocinas.

Adaptando uma técnica milenar para tratar a inflamação aberrante

Nas últimas décadas, a acupuntura tem sido cada vez mais adotada na medicina ocidental como um tratamento potencial para a inflamação. Nesta técnica, os pontos de acupuntura na superfície do corpo são estimulados mecanicamente, disparando a sinalização nervosa que afeta a função de outras partes do corpo, incluindo órgãos.

Em um estudo de 2014, pesquisadores relataram que a eletroacupuntura, uma versão moderna da acupuntura tradicional que usa estimulação elétrica, poderia reduzir a tempestade de citocinas em camundongos ativando o eixo vago-adrenal – uma via em que o nervo vago sinaliza às glândulas adrenais para liberar dopamina.

Em um estudo publicado em 2020, o Dr. Qiufu Ma e sua equipe descobriram que esse efeito da eletroacupuntura era específico da região: era eficaz quando administrado na região do membro posterior, mas não tinha efeito quando administrado na região abdominal. A equipe formulou a hipótese de que pode haver neurônios sensoriais exclusivos da região dos membros posteriores responsáveis ​​por essa diferença na resposta.

No novo estudo, os pesquisadores realizaram uma série de experimentos em camundongos para investigar essa hipótese. Primeiro, eles identificaram um pequeno subconjunto de neurônios sensoriais marcados pela expressão do receptor PROKR2Cre. Eles determinaram que esses neurônios eram três a quatro vezes mais numerosos no tecido da fáscia profunda do membro posterior do que na fáscia do abdome.

Em seguida, a equipe criou animais que não tinham esses neurônios sensoriais. Eles descobriram que a eletroacupuntura no membro posterior não ativou o eixo vago-adrenal nesses camundongos. Em outro experimento, a equipe usou estimulação baseada em luz para direcionar diretamente esses neurônios sensoriais na fáscia profunda do membro posterior.

Essa estimulação ativou o eixo vago-adrenal de maneira semelhante à eletroacupuntura. “Basicamente, a ativação desses neurônios é necessária e suficiente para ativar o eixo vago-adrenal”, disse o Dr. Ma.

Em um experimento final, os cientistas exploraram a distribuição dos neurônios nas patas traseiras. Eles descobriram que existem consideravelmente mais neurônios nos músculos anteriores do membro posterior do que nos músculos posteriores, resultando em uma resposta mais forte à eletroacupuntura na região anterior. “Com base nessa distribuição de fibras nervosas, podemos predizer quase com precisão onde a estimulação elétrica será eficaz e onde não será”, explicou o pesquisador.

Juntos, esses resultados fornecem “a primeira explicação neuroanatômica concreta para a seletividade e especificidade dos pontos de acupuntura. Eles nos dizem os parâmetros da acupuntura, então para onde ir, a que profundidade ir, e quão forte deve ser a intensidade”, concluiu o Dr. Qiufu Ma.

Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da Universidade Harvard (em inglês).

Fonte: Catherine Caruso, Comunicação/Escola Médica de Harvard. Imagem: Thirdman via Pexels.

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