Notícia

7 fatos que precisamos saber sobre a hanseníase neste século

Médica da UFU explica como mitos em torno da doença atrapalham diagnóstico precoce

Divulgação, Blog da Saúde, Ministério da Saúde

Fonte

UFU | Universidade Federal de Uberlândia

Data

quinta-feira, 16 janeiro 2020 11:00

Áreas

Medicina. Infectologia. Saúde Pública.

Neste mês acontece a campanha “Janeiro Roxo”, que trata da conscientização sobre a hanseníase, uma das doenças mais antigas do mundo e rodeada de mitos sem sentido para a ciência em 2020. O Brasil é o segundo país com mais casos de hanseníase no mundo, atrás apenas da Índia, e esclarecimentos sobre a doença são necessários. Um dos seis centros de referência nacional é sediado na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), tem 20 anos de atuação e pode ajudar a entender a hanseníase. A médica Dra. Isabela Maria Bernardes Goulart, que é professora da Faculdade de Medicina da UFU (Famed/UFU), coordenadora do Centro de Referência Nacional em Dermatologia Sanitária e Hanseníase do Hospital de Clínicas de Uberlândia (Credesh/HCU/UFU) e Diretora Científica da Sociedade Brasileira de Hansenologia (SBH), ajuda a esclarecer sete fatos que estão associados à doença.

1.A hanseníase é uma doença de nervos

“A bactéria que causa hanseníase [Mycobacterium leprae] gosta do nervo periférico. Não do sistema nervoso central. Não leva à convulsão, nem à dor de cabeça, nem ao acidente vascular cerebral (AVC), que as pessoas chamam de derrame. É do sistema nervoso periférico, que inerva vasos, glândulas, pelos, bem como nervo sensitivo e motor”, explica a especialista.

2. Os sintomas podem variar muito e nem sempre são manchas

Pode ser uma parte da pele que deixa de suar, fica muito seca ou o pelo pode diminuir ou cair. Ou pode haver uma mudança na sensibilidade: dormência, formigamento ou sensação de coceira. Algumas pessoas têm mancha, outras não. A população tem que estar atenta. Divulga-se que a hanseníase é só dormência, ausência de dor e/ou coceira. Isso não é verdade! Quando a dor nas pernas está relacionada a um problema de varizes, a pessoa refere melhora ao deitar-se. Quando a dor é de nervo periférico, mesmo no repouso, o paciente refere dor nas pernas, sensação de queimação, que o leva inclusive a querer colocar gelo nessa área ou tomar banho gelado.

3. Diagnóstico de hanseníase depende de atenção profissional

A hanseníase não é uma doença apenas da dermatologia, mas sim de várias especialidades médicas, como a clínica médica, infectologia, neurologia, reumatologia, medicina da família e comunidade, e outras especialidades, como otorrinolaringologia, oftalmologia e ortopedia. A Dra. Isabela exemplifica que uma obstrução nasal crônica com mau cheiro comumente é tratada como sinusite, mas, caso haja dormência, pode ser hanseníase. Quem tiver algum sintoma deve procurar o serviço de saúde mais próximo da sua casa e fazer o exame clínico, com palpação de nervos, observação da pele e testes de sensibilidade.

4. Pessoas com hanseníase convivem normalmente em sociedade

A transmissão do bacilo acontece principalmente por vias respiratórias, porém, a maioria da população tem resistência parcial e nem todas as formas clínicas transmitem, apenas as mais graves – que chegaram a esse ponto justamente por falta de diagnóstico oportuno e tratamento. As crianças, em geral, não deveriam adoecer, pois a hanseníase tem um tempo de incubação longo e, se elas adoecem, é porque existe um caso próximo a elas transmitindo desde a primeira infância.

Uma mulher com hanseníase pode amamentar seu filho, desde que ela esteja em tratamento contra a doença. “A gente fica pensando que hanseníase não está na comunidade, que está distante de nós, que só acontece com os outros, e isso não é verdade! A hanseníase, por ser uma doença infecciosa causada por uma bactéria, pode acometer qualquer pessoa, adulto ou criança. Eu atendo várias pessoas trabalhando em vários lugares e tratando de hanseníase”, ressalta a Dra. Isabela Goulart, que trabalha com essa especialidade há 35 anos. A médica lembra que a política de isolamento compulsório indiscriminado, adotada nos anos 1930, provou-se totalmente ineficiente e só fez aumentar o número de casos. “Para conseguirmos um mundo sem hanseníase, precisamos descortinar, isto é, discutir, informar, enfrentar, olhar com carinho e cuidado, para fazer diagnóstico precoce”, defende a médica.

5. Quem tem hanseníase precisa contar para a família

O programa de controle da hanseníase é voltado também para os familiares do paciente, que são chamados de contatos. Para fechar a cadeia de transmissão, é necessário colocar as pessoas que conviveram com o doente antes do tratamento em um programa de vigilância anual por no mínimo cinco anos, pois, por ser contato, as chances de adoecer aumentam.

6. Pacientes com deformidades por hanseníase são cada vez mais raros

Apenas os casos sem tratamento evoluem para formas mais graves multibacilares, que deixam sequelas como garras de mãos, pés caídos, paralisia facial, úlceras em pernas e pés, e podem atingir órgãos internos. “Infelizmente, apesar de todos os esforços de capacitação de profissionais, ainda temos mais de 10% de casos novos com sequelas decorrentes da dificuldade em obter o diagnóstico de hanseníase na rede de saúde e da falta de informação sobre o que é hanseníase, uma vez que essa doença não tem sido prioridade nas diversas gestões de saúde e não é colocada em evidência pela imprensa”, lamenta a coordenadora do Credesh.

7. A hanseníase pode ter cura

“Com a poliquimioterapia – PQT (rifampicina, dapsona e clofazimina), o tratamento que hoje existe, a maioria dos pacientes se cura dentro do tempo previsto de seis meses, 12 meses, até 24 meses. Alguns pacientes vão precisar de tratamento por um tempo maior e, às vezes, até de outras drogas já disponíveis, como ofloxacina e minociclina. Essa bactéria (M. leprae) quer sobreviver a qualquer custo e, por isso, está ficando resistente, como está acontecendo com a bactéria que causa tuberculose”, afirma a Dra. Isabela Goulart. O tratamento feito com antibióticos da PQT é fornecido gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Mas, segundo a professora da UFU, o Ministério da Saúde precisa liberar novas drogas para tratar o bacilo de Hansen, tais como claritromicina, moxifloxacina e levofloxacina.

Acesse a notícia completa na página da UFU.

Fonte: Diélen Borges, UFU. Imagem: Divulgação, Blog da Saúde, Ministério da Saúde.

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